Durante workshop na Bett Educar, gestores, diretores e educadores compartilham tentativas e acertos de quem tentou implementar um processo de mudança
via Por Vir
A princípio, a ideia parece boa. Você tem boas intenções e chega na escola disposto a implementar projeto de transformação. No entanto, na hora de tirar tudo isso do papel, começam a aparecer os primeiros desafios: infraestrutura, falta de tempo, formação de professores, resistência das famílias ou até mesmo pouco engajamento dos estudantes. Pode ser que você já tenha visto ou vivido essa história (e se desanimado com ela), mas talvez não tenham te contado que outros educadores também já passaram pelo mesmo percurso.
Mas, afinal, como engajar a comunidade escolar em processos de inovação? Para debater essa questão e compartilhar experiências, gestores, diretores e professores participaram ontem (15) de um workshop na Bett Educar organizado pelo Porvir. Após trocarem experiências de tentativas e acertos, eles construíram coletivamente recomendações de erros que devem ser evitados por educadores que pretendem dar início a um projeto de mudança.
Para Francine Lemos, CEO da Cause, que apoia organizações na identificação e gestão de causas que conectam as pessoas com as demandas atuais, um dos primeiros passos para começar um projeto de transformação é identificar o nível de engajamento de todos os atores envolvidos com a causa. Uma vez envolvidos, eles precisam se sentir participantes desse processo. “Uma pessoa engajada ainda não é um agente de transformação. Eu preciso chamar essa pessoa para vir junto e aí dar instrumentos para que ela se empodere e possa de fato participar de alguma coisa”, destaca.
Na Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, que reúne educadores, artistas, pais, pesquisadores, empreendedores, alunos e organizações voltadas para a implantação de abordagens educacionais mão na massa, criativas e interessantes, o fortalecimento da causa acontece a partir do oferecimento de oportunidades claras de engajamento. “Somos uma comunidade de cerca de três mil pessoas no Brasil interessadas em promover essa educação mais relevante para os alunos. A comunidade é muito diversa, de pesquisadores a professores”, diz Guilherme Sandler, articulador da Rede, ao mencionar sobre a importância de desenvolver estratégias para dialogar com cada grupo. “Temos trabalhos com os pesquisadores, materiais destinados aos professores e ações de engajamento com as escolas que querem se transformar”, exemplifica.
por Marina Lopes | PORVIR
“Perguntar para o estudante o que ele quer também pode ser transformador para o outro lado”, sugere Cinthia Rodrigues, coordenadora do Quero na Escola, que conecta temas pedidos por alunos a voluntários que podem compartilhar suas experiências. De acordo com ela, esse processo de escuta também pode ser o ponto de partida para diretores e professores desenvolverem um novo projeto dentro da escola.
Durante a atividade, três diretores de escolas compartilharam suas experiências de como conseguiram mobilizar a comunidade em processos de transformação. “Nós temos que ter algumas convicções. Nossa opção foi procurar fazer os professores e alunos entenderem que na coletividade, como uma comunidade aprendente, que os problemas serão discutidos”, contou Paulo André Cia, do Colégio Arbos, em Santo André (SP).
A diretora Luziângela Cornelsen de Queiroz Telles, da Escola Projeto / Lápis de Cor, em Curitiba (PR), também encorajou os participantes a acreditarem no potencial de transformação da escola. “Nós temos um lema interno na escola: o máximo que pode acontecer é não dar certo. Toda hora tentamos fazer alguma coisa diferente, todo mundo está sempre inquieto”, compartilhou ela, enquanto destacou a importância de frequentemente rever os processos e corrigir o que eventualmente não está funcionando.
A comunidade também pode ser uma grande aliada no processo de transformação. A diretora Lúcia Cristina Santos, da escola Municipal Professor Waldir Garcia, Manaus (AM), compartilhou como foi possível resgatar o sentido da escola com o trabalho coletivo. “Nós rompemos com o tradicional de forma bem radical. Aqui todos os funcionários da escola são educadores. A educação das crianças deve ser compartilhada.”
Confira a lista com os principais erros mencionados por gestores, diretores e educadores que tentaram colocar em prática um projeto de transformação:
Realidade da Escola
– Deixar de considerar a infraestrutura disponível na escola
– Implementar uma inovação sem investir na formação dos professores
– Promover mudanças sem alinhamento com o currículo
– Não prever os recursos necessários para desenvolver o projeto
Processo de Inovação
– Começar um processo sem desenvolver um planejamento prévio
– Não comunicar as mudanças de forma clara para envolver a comunidade escolar
– Desconsiderar o tempo necessário para implementar uma nova proposta
– Desenvolver um processo de inovação sem intencionalidade
– Não ter ferramentas e/ou processos estruturados para tomar decisões com base na análise de dados
Engajamento
– Dar início a uma mudança sem envolver os professores e profissionais que atuam na escola
– Não escutar os estudantes
– Deixar de envolver as famílias e não comunicar o processo de transformação de forma clara
Clima
– Não oferecer apoio aos profissionais envolvidos no processo
– Desconsiderar o medo de professores, famílias e estudantes diante das mudanças
Confira também algumas dicas para dar início a um processo de transformação:
– Criar demanda pela transformação da escola
– Promover conversas sobre demandas da sociedade e conectar essas questões aos desafios da escola
– Criar canais de escuta dos estudantes
– Organizar eventos para chamar a atenção para novas práticas e criar momentos de discussão
– Sensibilizar a comunidade escolar em prol da transformação da escola
– Fazer encontros regulares entre pessoas que estão interessadas em começar um processo de mudança
– Conquistar o apoio da comunidade
– Articular educadores e a comunidade a partir de fatos
Fonte: Por Vir – Inovações em Educação | http://porvir.org/
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