11 de outubro de 2024
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Redação do Enem: os 6 erros mais comuns na estrutura do texto, segundo quem corrige simulados

Fonte: BBC | www.bbc.com

Erros mais comuns na estrutura do texto

O peso que ela tem na nota do Enem e as dificuldades de muitos alunos com a escrita fazem com que a redação seja uma das partes mais temidas pelos estudantes que se preparam para o primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio, marcado para o dia 3 de novembro.

Em linhas gerais, é bom lembrar que ela é avaliada sob cinco competências, cada uma valendo de zero a 200 pontos: domínio da escrita formal; compreensão e desenvolvimento da proposta (tema); saber selecionar, relacionar, organizar e interpretar argumentos, informações e opiniões na defesa de um ponto de vista; demonstrar ter conhecimento dos mecanismos linguísticos para construir uma argumentação; e saber elaborar uma proposta de intervenção (conclusão) para o problema abordado no tema, sempre respeitando os direitos humanos.

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A BBC News Brasil conversou com três pessoas que corrigem simulados de redação em cursinhos e projetos preparatórios voltados a jovens de escolas públicas, e ouviu deles quais são os erros comuns de estrutura (para além de erros de ortografia, gramática e pontuação) que levam à perda de pontos nos textos. Veja, também, algumas precauções para ajudar na escrita de uma redação que alcance a nota mil.

Erro 1: Não construir uma linha de argumentação

É muito comum que as redações se “percam” ao longo do texto, sem seguir a linha exigida pelo Enem — de introdução, desenvolvimento do texto e conclusão, diz Eva Albuquerque, professora de redação do Cursinho da Poli.

Nesses casos, falta o que ela chama de um “projeto de texto”: o aluno não tem claro como vai abordar o tema, quais argumentos vai usar e qual proposta de intervenção (ou seja, como acha que o problema precisa ser atacado).

Como se precaver: Primeiro, lembre-se de que a redação tem que ter começo, meio e fim, interconectados entre si —- em outras palavras, uma introdução que apresente uma tese bem elaborada, uma boa argumentação com dados factuais e referências, e uma conclusão, embasada pelos dados apresentados no próprio texto, diz Fabiano Gonçalves, gerente de operações educacionais do Instituto Proa.

Antes de começar a redação, faça um plano: como vou entrar no tema proposto? Quais meus argumentos principais e secundários? Qual vai ser a minha conclusão?

Eva Albuquerque sugere também dedicar alguns minutos, antes mesmo de começar o rascunho, a planejar o esqueleto de seu texto — assim como um arquiteto planeja a casa que vai construir: como vou entrar no tema? Quais meus argumentos principais e secundários? Qual vai ser a minha conclusão?

Uma grande dificuldade dos jovens é justamente ter repertório para construir uma boa argumentação, interpretar dados e colocar informações em contexto, afirma Fabiano Gonçalves.

Esse repertório vem de nossas experiências pessoais e culturais: os livros que lemos, filmes, passeios em museus, notícias que acompanhamos, os debates que temos com os amigos, familiares e professores. E, também, nossos conhecimentos das demais disciplinas, como história, geografia e até mesmo a matemática.

Quanto mais o jovem tiver dessa “bagagem”, mais fácil vai ser acessar informações na cabeça para construir uma argumentação coerente e relevante na redação do Enem.

Gonçalves sugere também treinar antes o uso do tempo, cronometrando para escrever sobre um determinado tema dentro de uma hora, que é mais ou menos o tempo que se dedica à redação no dia do Enem.

O ideal, para quem puder, é fazer simulados que sejam corrigidos por pessoas que entendam as competências exigidas no Enem.

Erro 2: Escrever em primeira pessoa

Fazer a redação em primeira pessoa (“eu”), escrever “acho que” ou “opino que”, ou fazer conclusões que não tenham nenhuma relação com os argumentos citados no texto é motivo comum de perda de pontos na redação.

“Isso é visto como uma evidência de que o aluno não entende a estrutura das redações exigidas pelo Enem, que devem ser embasadas por dados e fatos”, explica Gonçalves.

Como se precaver: Diferenciar fatos de opiniões é um bom começo para não se perder, diz Albuquerque. “A proposta de intervenção (ou seja, a conclusão) é algo pessoal, mas não pode ser escrita em primeira pessoa, porque ela é embasada pelas referências (de argumento) do texto. Se minha conclusão é de que ‘sou contra o Exército nas ruas’, tenho de dizer que isso pode ser ruim por tais e tais motivos, mas não ‘porque eu acho’.”

Erro 3: Fugir do tema proposto

Quando o aluno não entende bem o tema proposto pelo Enem ou quando se dispersa ao longo do texto, é comum que as conclusões não sejam consistentes com o que os corretores esperam.

Albuquerque conta que, no Enem de 2017, cujo tema da redação eram os “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, alguns alunos se perderam em assuntos relacionados, mas diferentes, como a educação de cadeirantes.

Como se precaver: O jeito é ficar muito atento, ao longo de todo o texto, e “puxar a si mesmo” para o tema central se você vir que começa a se dispersar dele.

“Cuidado para não tangenciar, que é estar próximo do tema, mas não falando do tema em si”, adverte Daniely do Nascimento, que já foi corretora do Enem e hoje é corretora voluntária no projeto Salvaguarda, que atende a jovens de escolas públicas em Ribeirão Preto (SP).

Erro 4: Repetir frases e ‘encher linguiça’

Corretores afirmam que muitos simulados contêm muitas frases, palavras e argumentos repetidos, que acrescentam pouca informação ao texto.

“Muitos alunos tentam encher linguiça, criar volume de linhas escritas, com frases genéricas que não dizem nada”, diz ele.

Como se precaver: Olhe para cada palavra e frase e se pergunte: ela agrega informação ao texto? Se você retirá-la e isso fizer pouca diferença no texto, é sinal de que ela não agrega valor à sua redação.

“Lembre-se de que o espaço previsto pelo Enem dá justo para apresentar o tema, falar sobre ele e daí apresentar uma conclusão”, diz Gonçalves.

Erro 5: Usar linguagem informal

A primeira competência exigida pelo Enem é o domínio da escrita formal. Mesmo assim, esse é um dos itens mais descumpridos pelos alunos, afirma Daniely do Nascimento.

“É muito comum que os jovens escrevam abreviações, como ‘vc’ e ‘pq’, porque estão acostumados a escrever assim na internet”, diz ela. Mas gírias e expressões que usamos apenas na linguagem oral (e nas redes sociais) são garantia de pontos perdidos na redação.

Como se precaver: Nada de abreviações, e evite também palavras usadas na linguagem oral, como “ficou ligado”, “bem”, “você”, e expressões variantes, “bem, para começar”, “de repente você vê que…”.

Mas, atenção: isso não significa usar palavras difíceis, apenas usar a norma culta.

“O aluno que tenta ser muito rebuscado no texto acaba se atrapalhando ainda mais, porque ele não domina aquela linguagem”, diz Eva Albuquerque. “O ideal é ser objetivo e claro.”

Erro 6: Fazer um texto desorganizado

Frases incompletas, em que a informação não fica clara para o corretor, ou parágrafos soltos, que não tenham conexão com o que veio antes ou vem depois, podem levar a perdas de pontos em duas das cinco competências exigidas pelo Enem, adverte Nascimento.

Isso porque a redação acaba não tendo coesão.

Como se precaver: Elaborar um “projeto de texto”, como o sugerido no item 1 por Eva Albuquerque, pode ajudar a evitar essa desorganização.

A professora do Cursinho da Poli afirma, ainda, que, para alunos que tenham dificuldade em iniciar um texto, uma boa estratégia é citar alguma referência histórica ou obra cultural relacionada ao tema da redação.

Por exemplo, se o tema é violência urbana, pode-se abrir citando algum episódio recente de bala perdida que tenha causado comoção, algum caso histórico no Brasil ou mesmo alguma frase relevante de livro, filme ou seriado que aborde o mesmo assunto.

Mas é preciso ter cuidado para não cair em uma “enrascada”, diz Nascimento. “Às vezes os alunos citam autores só por citar, sem ter nenhuma conexão com a argumentação do texto.”

Para a professora, o melhor jeito de ter um texto organizado é praticar antes. “Não dá para ficar um ano sem escrever e deixar para fazê-lo só no dia do Enem. Escrita é treino — é escrever e ler bastante para além das redes sociais”, diz Nascimento.


Fonte:
BBC | www.bbc.com
Postado por: Abime | www.abime.com.br

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