via Brasil de Fato
Débora Garofalo, professora da rede pública de São Paulo, foi eleita uma das dez melhores professoras do mundo
Às costas da Favela do Alba, no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo (SP), está a Escola Municipal de Educação Fundamental (EMEF) Ary Parreiras. Como quase todas as escolas da periferia paulistana, está cercada por grades e portões altos. Por uma entrada lateral, a porta se abre.
– Vocês vieram ver a professora?
Com tantas docentes na unidade, a pergunta poderia soar vaga ou redundante. Porém, desde que Débora Garofalo foi indicada ao Global Teacher Prize, considerado o “Nobel da Educação”, como uma das dez melhores professoras do mundo, ela tem sido procurada com frequência por alunos, pais, moradores da comunidade e curiosos.
O prêmio, vencido por Peter Tabichi, professor de ciências sociais da zona rural do Quênia, trouxe visibilidade para Garofalo, mas também para os estudantes. “As crianças estão se sentindo orgulhosas de terem chego tão longe, diante de uma realidade tão difícil. A gente não fica igual quando entra numa premiação desse tipo. Saímos muito diferentes. Isso me fortalece a querer lutar e transformar a educação desse país”, afirma a professora.
Trajetória
Ainda criança, Garofalo ganhou uma lousa de presente de sua mãe. Começou ali o desejo de ser professora. “Eu adorava ensinar os meus colegas da minha rua e da sala de aula também”, lembra. A docente foi indicada após os organizadores do prêmio conhecerem o projeto “Robótica com sucata”, desenvolvido na EMEF Ary Parreiras.
“O projeto ‘robótica com sucata’ nasceu da necessidade de transformar a vida dessas crianças da periferia de São Paulo. Quando eu vim pra essa comunidade, encontrei tudo diferente do que havia visto nos meus quatorze anos de docência. Crianças que não têm ainda o saneamento básico, residem na beira do córrego, com casa muito simples, casa de madeira, mas com violência e tráfico de drogas muito presente na vida delas”, explica Garofalo.
O projeto desenvolvido pela professora consiste em tirar das ruas da comunidade lixo reciclável e adaptá-lo para a robótica. “Decidi transformar o lixo em currículo”, conta Garofalo, que antes da implementação do programa teve que convencer os alunos: ansiosos por terem contato com os computadores, eles não queriam sair da escola.
“Eles [estudantes] começaram a ir às ruas para recolher lixo e construíram o primeiro protótipo, que foi um carrinho movido a balão de ar e virou uma febre na escola. No dia seguinte, muitas crianças levaram materiais recicláveis querendo reproduzir o protótipo”, comemora Garofalo. Desde então, os estudantes construíram helicópteros, máquinas de refrigerantes e carros de corrida em miniatura.
Após três anos desde o início do projeto, a professora afirma ter tirado, com os alunos, uma tonelada de lixo reciclável das ruas da comunidade. Com o sucesso de “Robótica com sucata”, a docente conseguiu verba para organizar feiras de ciência e também garantiu audiência de pais e estudantes em aulas públicas, que são realizadas dentro da unidade.
Arma na mão de professor?
No dia 13 de março deste ano, dois alunos cometeram um atentado a tiros na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. O episódio fomentou o debate sobre violência nas unidades de ensino. Para Garofalo, é preciso compreender as origens do problema.
“Os meus alunos praticam a violência pelo próprio meio. A primeira ação que eu fiz com os alunos aqui na escola foi pedir para fazer uma pesquisa sobre a comunidade, e eu confesso que eu me arrependi muito, porque eu não soube lidar com o resultado que eles encontraram na internet sobre o próprio bairro”, conta. “Eles viam muita gente morta, e eu comecei naquele desespero pedir para fechar a pesquisa, e vi que era natural. O jeito que eles viam a morte é algo que me chocou muito”, analisa.
O senador Major Olimpio (PSL-SP) sugeriu, após a chacina na escola em Suzano, que professores fossem armados para revidar possíveis ataques de alunos. Garofalo rechaça a proposta do parlamentar. “Nunca. A minha maior arma é o conhecimento que eu posso aprender com os alunos e também transmitir a eles. Eu não acredito numa educação que precise de força para ser imposta. Acredito numa educação que precisa ser fomentada e compartilhada”, finaliza.
FONTE: Brasil de Fato |
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Postado por: Abime