Eleição para reitor acontece de forma indireta por meio da Assembleia Universitária. Nome apontado pela universidade deverá ser confirmado pelo governador João Doria (PSDB).
A Universidade de São Paulo (USP) escolhe na quinta-feira (25) um novo reitor para o mandato de quatro anos (2022-2026), que terá o desafio de superar as desigualdades de ensino criadas durante o período da pandemia.
A votação será realizada de forma online, das 9h às 18h. O nome escolhido pela universidade ainda terá que ser confirmado pelo governador João Doria (PSDB).
A eleição ocorre de maneira indireta, por meio da Assembleia Universitária, que é formada por cerca de 2 mil representantes de conselhos. A votação, que este ano será apenas online, formará uma lista com até três nomes para a escolha do governador João Doria (PSDB).
Tradicionalmente, os governadores escolhem o candidato mais votado na lista tríplice. Mas houve duas ocasiões em que o governo escolheu o segundo colocado: em 2009, na gestão José Serra (PSDB); e em 1969, na gestão de Paulo Maluf durante a ditadura militar.
Alguns membros da comunidade acadêmica e o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) defendem, há anos, que as eleições passem a ser feitas de maneira direta. Segundo o Sintusp, não há representatividade equivalente entre as categorias nos conselhos que compõem a Assembleia Universitária.
A USP tem cerca de 97 mil alunos matriculados em cursos de graduação e pós-graduação, 5,3 mil professores e 13,3 mil funcionários espalhados por 8 campi.
Candidatos
Neste ano, apenas duas chapas se inscreveram para a disputa este ano: a “Somos Todos USP”, que é encabeçada pelo físico Antonio Carlos Hernandes e tem como candidata a vice-reitora Maria Aparecida Machado; e a chapa “USP Viva”, encabeçada pelo médico Carlos Carlotti Junior e que tem Maria Arminda Arruda como candidata a vice-reitora.
Os candidatos a reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior e Antonio Carlos Hernandes — Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Os dois candidatos faziam parte da atual gestão do reitor Vahan Agopyan. Eles se licenciaram dos cargos de vice-reitor e pró-reitor de pós-graduação, respectivamente, para concorrer.
Ambos defendem políticas de diversidade e inclusão social para dar continuidade às ações que fizeram com que a universidade chegasse, pela primeira vez na história, à maioria de novos alunos vindos de escolas públicas. Com alívio nas contas da USP após crise financeira, eles também acreditam ser possível um reajuste salarial e novas contratações de professores e funcionários.
Em entrevista ao g1, Carlotti e Hernandes destacaram suas principais propostas. Veja abaixo:
Inclusão e diversidade
A adesão ao Sisu e o sistema de cotas iniciado em 2017 fizeram com que a USP chegasse, em 2021, a 51,7% dos ingressantes oriundos de escolas públicas, sendo 44,1% autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Os candidatos pretendem avançar em políticas de inclusão.
A chapa “Somos Todos USP” propõe a criação de um “Conselho Especial de Inclusão e Diversidade”, composto pela academia e por representantes da sociedade civil.
“Dentro desse conselho terão grupos temáticos étnicos-raciais, de gênero, LGBTQIA+ e de acessibilidade, que vão decidir os próximos projetos para esse processo de inclusão e diversidade. O conselho vai atuar transversalmente, de maneira descentralizada. A universidade sozinha já fez a parte dela, agora é necessário trabalhar em conjunto com a sociedade”, diz Hernandes.
Já a chapa “USP Viva” defende a criação de uma nova pró-reitoria para coordenar e apoiar as políticas de permanência estudantil, saúde integral e inclusão social.
“O principal é uma gestão para as pessoas. A USP fez um grande processo de inclusão. O que nós precisamos agora é fazer, com a mesma intensidade, um processo que acolha essa inclusão. Nós precisamos ter um processo de permanência estudantil. A inclusão não é só financeira. É acadêmica, uma preocupação com saúde mental, uma preocupação com oportunidades”, diz Carlotti.
Pandemia
A pandemia trouxe disparidade de condições de acompanhamento para alunos de todas as etapas do ensino, e na USP não foi diferente. Alguns cursos da área da saúde, por exemplo, continuaram com as aulas práticas essenciais mesmo com o fechamento durante a quarentena. Já os cursos teóricos realizaram atividades apenas de forma online até outubro de 2021, data do retorno presencial na universidade.
“A mudança que fizemos para o ensino não presencial foi quase emergencial. Nós fomos nos adaptando, fomos aprendendo. Na nossa proposta estamos pedindo para que todas as unidades e todos os cursos façam uma análise rigorosa do que perdemos para fazer um plano de reposição para o ano que vem. Dependendo de cada curso, tudo está na mesa de como podemos compensar, até fazer uma prorrogação do prazo para o aluno se formar”, afirma Carlotti.
“É um desafio a acomodação daquilo que restará dessa reflexão do que aprendemos na pandemia. A universidade não parou, seguiu com as dificuldades impostas, mas aprendeu a realizar uma série de ações utilizando a tecnologia da informação. Entendemos que esse é um processo que deve permanecer. Mas tem que ficar claro que a USP é uma universidade presencial. Não haverá substituição pelo ensino remoto. O que haverá é o uso de metodologias ativas para a formação”, diz Hernandes.
Ambos candidatos também propõem ações focadas em saúde mental para acolhimento dos estudantes e aumento de recursos financeiros para bolsas que permitam a permanência estudantil.
Defesa da Ciência
No contexto nacional de ataques à ciência e propagação de notícias falsas, Hernandes e Carlotti também destacam a importância da autonomia e produção intelectual qualificada da universidade.
“Nosso objetivo é fazer com que a sociedade venha para a universidade e a universidade vá até a sociedade. Nós levaremos informação qualificada, cursos de difusão [cursos curtos]. E do ponto de vista da sociedade, trazer para dentro da universidade os problemas para que a gente possa conjuntamente encontrar soluções. Não só para questões específicas, mas também para aquelas gerais do estado e do país”, diz Hernandes.
“O valor do ensino e o valor da ciência são os fatores que podem transformar a sociedade. Quando temos um ataque a esses valores, na verdade você não está atacando a universidade, está atacando uma eventual melhora da sociedade. Queremos que, não só os pesquisadores da USP tenham sua opinião, como a instituição se posicione sobre esses grandes problemas. E aí as propostas poderão ser transformadas em políticas públicas”, diz Carlotti.
Aumento de salários
Após passar por uma grave crise financeira, a USP congelou novas contratações e reajustes salariais e iniciou um programa de incentivo à demissão voluntária. De acordo com os candidatos, o reequilíbrio recente das contas permitirá aumento de salário para professores e funcionários na próxima gestão.
“Existe uma defasagem salarial bastante grande, principalmente com a inflação tão alta. Isso nós temos que fazer um reparo. Como tivemos uma crise financeira e depois uma legislação que impedia a contratação, temos um déficit tanto de servidores como de professores. Então precisamos recuperar o número e melhorar o salário”, diz Carlotti.
“O trabalho que foi feito para melhorar a eficiência de gastos da universidade permitiu que chegássemos agora com um impacto da folha de pagamento ao nível mais baixo em 10 anos. Temos espaço para que possamos reajustar os salários dos professores e dos funcionários, com o mínimo da inflação dos dois últimos anos”, afirma Hernandes.
Perfil dos candidatos
Chapa “USP Viva” – veja o site da campanha
- Reitor: Carlos Gilberto Carlotti Jr.
Professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, é doutor em medicina pela USP. Neurocirurgião pelo HCRP e especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Ocupou cargos de diretor Clínico do HCRP, presidente da Comissão de Título de Especialista da SBN, diretor da FMRP, presidente da Fundação de Pesquisas Médicas de Ribeirão Preto (2016-2019) e Pró-reitor de Pós-graduação da USP (2016-2018 e 2018-2021). - Vice-reitora: Maria Arminda Arruda
Professora titular de Sociologia da USP, doutora pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Foi diretora da FFLCH (2016-2020); Pró-Reitora de Cultura e Extensão (2010-2015); coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (1991-1996) da FFLCH e chefe do Departamento de Sociologia (2005-2008).
Chapa “Somos Todos USP” – veja o site da campanha
- Reitor: Antônio Carlos Hernandes
Professor titular do Instituto Física de São Carlos (IFSC), é doutor em Física pela USP. Desenvolve pesquisa na área de Física e de Ciências dos Materiais. É membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). É um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat). Vice-reitor da USP (2018-2021). Foi pró-reitor de Graduação da USP (2014-2018). - Vice-reitora: Maria Aparecida Machado
Professora titular na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP). Foi chefe do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva; presidentes da Comissão de Pós-Graduação, vice-diretora e diretora da FOB. Foi superintendente do HRAC/Centrinho/USP e Pró-Reitora de Cultura e Extensão da USP (2018-2021).
Fonte: G1
Publicado por Abime